sexta-feira, 15 de julho de 2011

Síndrome de Down - O preconceito no dia a dia

Aquele olhinho meio puxado não engana. Indica logo que se trata de alguém com Síndrome de Down. De fato, essa característica tão marcante é usada pelos médicos para o diagnóstico clínico do bebê com Down.

O erro, entretanto, está em ver naquela pessoa uma falta de capacidade inata, como se a Síndrome significasse o destino a uma vida improdutiva e sem autonomia. É o que afirma o presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Zan Mustacchi.

"Porque ele é um Down, porque eu vi o rosto dele, eu não dou oportunidades que ele merece ter. Então, eu acabo limitando-o sem, entretanto, saber o potencial de capacitação. Eu costumo dizer o seguinte: os limites quem tem de colocar somos nós mesmos. (...) Se um outro indivíduo me limitar e disser que eu não vou aprender francês, é porque ele não vai me permitir nem sequer ter aula de francês."

A falta de informação sobre as potencialidades da pessoa com Síndrome de Down causa preconceito até por parte de quem é responsável por seus cuidados, como professores, médicos e pais.

Érika Iarópoli ouviu de uma professora que sua filha nunca conseguiria se alfabetizar. Na maternidade, ela conta, os médicos e enfermeiros fizeram um clima de velório ao lhe dar a notícia de que a filha tinha nascido com a Síndrome.

Roxanna Campos, por sua vez, admite a própria reação negativa ao receber a mesma notícia, mas encontrou um médico mais bem preparado.

"Para mim, que nunca tinha convivido com Down, foi terrível, sofri muito, foi desesperador, sofri uma morte, um enterro. Por quê? Porque eu não sabia. Eu era tão preconceituosa, tão inexperiente, que, quando eu fui a um pediatra, eu disse assim: doutor, ela vai me amar? Eu vou ter que largar minha vida, vou ter que parar de trabalhar? O médico falou: vai se arrumar, cuidar da sua vida, porque a pior coisa que tem é uma mãe dentro de casa, neurótica, em cima de filho. Ela vai ter que ter as experiências dela, ser feliz e sofrer."

Surpreso, o deputado Eduardo Barbosa, do PSDB mineiro, ficou quando descobriu que seu funcionário, Rodrigo Marinho, sofria com o preconceito de uma pessoa com deficiência física.

"Era interessante que essa outra pessoa com deficiência encontrava com o Rodrigo nos corredores e punha apelido, zombava dele. Às vezes o preconceito, você acha que é só de pessoas não deficientes para pessoa deficiente, mas era uma pessoa deficiente que transpunha para o Rodrigo, por ser uma deficiência às vezes maior, vamos dizer, entre aspas mais comprometida, o outro se achava no direito de gozá-lo, colocar apelidos." 

Eduardo Barbosa, que emprega uma pessoa com síndrome de Down há oito anos, conta que em seu gabinete não há diferença de tratamento entre os funcionários.

"As pessoas o tratam de igual para igual, se está errado, se está certo. Não tem aqui nenhum sentimento piegas, ai, coitadinho, ou coisa semelhante. Eu mesmo o trato como qualquer outro funcionário, sem querer passar a mão, porque isso também é prejudicial. A pessoa com Síndrome de Down, às vezes, tende a nos seduzir. Eles são espertos, às vezes, fazem chantagem com você, emocional. Se ele vem com um problema de casa, ele chega aqui e quer contagiar esse problema para todo mundo, fica emburrado num canto. Então você tem que estar atento a isso, para mostrar para ele que não é por aí que ele vai conquistar a suas coisas."

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