quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crônica: Síndrome de Down , não, Síndrome de Deus

Almocei, comprei o jornal, sentei-me num dos bancos do Shopping.

Um casal vinha caminhando com um menino, de uns 8 ou 9 anos com síndrome de Down.O garoto parou em minha frente, oferecendo seu sorriso lindo e rasgado que devolvi dizendo:

– Oi como vai, tudo bem ?

Seus pais pararam e sua mãe:

– Diz tudo bem “pro” moço, encabulado pelo moço, sorri para a mãe enquanto o menino com sua voz pausada, obedeceu.

–Tudo bem e o senhor?

Encantado com o menino respondi:

- Muito bem e você esta se divertindo ?

– Aqui é muito legal, e o senhor também.

– Verdade e porque eu sou legal ?

– Porque o senhor fala comigo.

Um nó na garganta uma poeira de estrelas congestionaram-me os olhos, embargaram-me a voz. Por uma fração de segundos revi meus filhos, neto e viajei nos olhos meigos do menino, peguei suas mãos, ele desvencilhando-se, deu-me um abraço e um beijo inesperados, que continham o carinho de todas as almas e a carícia maior que jamais recebi.

- Meu nome é Lucas disse desprendendo seu abraço.

– O meu é Carlos, respondi engasgado.

–Tchau seu Carlos, respondeu com sua voz musical e rouca. Seus pais me sorriram como agradecendo eu ter aceito seu menino "diferente". E continuaram andando com o Lucas, seu lindo menino, olhando as vitrines, as pessoas, engrandecendo a vida.

E eu, fiquei ali sentado, mudo, beatificado pelo abraço e pelo beijo, ouvindo o som cavo e surdo do manto do tempo caindo, sentindo no rosto o calor divino do menino com Síndrome de Deus. Qualquer dia em que meu abraço encontre o seu sorriso, que a luz continue envolvendo nossas crianças encantadas...

Carlos Said

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