Um programa para crianças com desordens de aprendizagem e/ou desenvolvimento, síndromes diversas e paralisia cerebral, criado há 40 anos pela professora de ioga Sonia Sumar, continua a ser usado com sucesso no Brasil e no Exterior.
Inspirada no caso de sua filha Roberta, portadora de síndrome de Down, já falecida, Sonia idealizou posições específicas de ioga, exercícios respiratórios, massagem e técnicas de relaxamento, e organizou as atividades em várias etapas, de acordo com a idade e o comprometimento da criança, com o intuito de melhorar os aspectos físicos e emocionais do aluno. Atualmente, ela ensina a prática a professores de ioga, nos Estados Unidos.
Os benefícios não são apenas físicos Foto: Charles Guerra / Agencia RBS |
O programa, intitulado Yoga para Crianças Especiais, é terapêutico e usa a atividade milenar para estimular, fortalecer e equilibrar, explica a filha de Sonia, Renata Sumar, fonoaudióloga e professora de ioga em Belo Horizonte:
— Nosso foco é desenvolver a atenção, a memória, a motricidade grossa e fina e até mesmo a área da fala. A ioga trabalha o indivíduo de dentro para fora, buscando trazer o melhor de cada um.
Segundo ela, a respiração carrega a responsabilidade por grande parte da melhora.
— A forma como respiramos tem um efeito profundo em nosso sistema nervoso. A maior parte das pessoas usa apenas um sétimo da capacidade total dos pulmões. Nossas células cerebrais requerem três vezes mais oxigênio do que outras células em nosso corpo — explica.
Renata conta que a respiração reequilibrada e a maior quantidade de oxigênio nas células cerebrais fortalecem e revitalizam os sistemas nervoso somático e autônomo.
O recomendado é que a criança especial seja inserida na prática por volta dos 40 dias de vida. No caso dos bebês, o trabalho é de acordo com a respiração deles. A recomendação é de enfatizar a expiração, para que a cada nova inspiração a criança possa ir um pouco mais além, dentro do limite de cada um.
— Quanto mais cedo começa o trabalho, melhor, por causa da plasticidade cerebral – recomenda.
Nos primeiros anos de vida, a aula deve ser individual. De acordo com o desenvolvimento da criança, ela pode ser incluída em grupos com a mesma faixa etária.
De acordo com a professora Renata, crianças portadoras de síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo, síndrome do miado de gato, Prader Willi, transtorno de déficit de atenção, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, além de atraso global, atraso motor, atraso de fala e gagueira podem apresentar melhoras quando submetidas ao programa desenvolvido por Sonia.
— É claro que certos aspectos físicos, especialmente os consequentes de uma síndrome, não vão desaparecer, mas notamos uma boa evolução na motricidade geral, na atenção e em problemas como asma, sinusite, bronquite e outros respiratórios. Há também uma melhora em casos de estrabismo e condições cardíacas — lembra.
Os benefícios à criança, segundo Renata, não são apenas físicos.
— Temos relatórios de pais que testemunham os filhos mais alegres, centrados, tentando coisas que nunca puderam fazer antes — conta a professora.
Luciene Arantes, 41 anos, mãe de Carlos Henrique, portador de síndrome de Down, 14 anos, percebeu as vantagens do método:
— Em dois meses, já vi resultados. Ele era bastante hipertônico (musculatura rígida), tinha os músculos encurtados, causando falta de equilíbrio e descompassando seu caminhar. Agora já anda melhor, agacha e brinca.
O lado psicológico do adolescente também foi afetado. Segundo a mãe, ele fica mais calmo depois da prática, sente-se capaz de fazer as coisas, melhorou bastante a autoestima e o desempenho escolar.
— Com os exercícios de respiração, o cérebro oxigena melhor e ele consegue prestar mais atenção. É impressionante — diz.
Em decorrência de uma hérnia de disco, que a impedia de dançar, Kátia Gontijo, ex-bailarina clássica, descobriu a prática de ioga. Depois de uma aula, decidiu vender sua escola de balé e viajar para São Paulo, a fim de aprender a técnica e se profissionalizar como instrutora. Anos depois, com o nascimento do filho, Mateus, portador de síndrome de Down, Kátia procurou conhecer mais sobre o programa Yoga para Crianças Especiais. Ela aplica a técnica no filho desde que ele era bebê. Hoje, aos seis anos, o menino chama a atenção: seu tônus muscular, sua postura e alegria não passam despercebidos.
Segundo a professora, o Yoga para Crianças Especiais é uma alternativa à fisioterapia e trabalha não só os músculos, mas também a mente.
— Não tem nada externo, não fico balançando nada para a criança. Somos eu e ela. Não trabalhamos uma perna ou um braço. Trabalhamos a criança como um todo — explica Kátia.
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