terça-feira, 28 de junho de 2011

Crianças com Síndrome de Down, paraplégicas e cegas e a dança

Quase todas as meninas sonham tornar-se bailarinas um dia, e muita gente imagina que esse desejo, para as garotas portadoras de deficiência, fica só na fantasia. Não fica, não. Meninas paraplégicas, com síndrome de Down e cegas mostram que a dança não é simplesmente a repetição de passos em coreografias perfeitas e, sim, a forma mais espontânea de estarem de bem com o corpo e consigo mesmas. Renata Vargas de Carvalho, que ficou paraplégica aos 4 anos devido a um acidente de carro, é uma delas. Não deixou que lhe roubassem esse sonho. Tornou-se a primeira bailarina do Grupo Giro, em Niterói, no Rio de Janeiro. "Eu não sabia como seria dançar em cima de uma cadeira de rodas. Só sabia que queria dançar", lembra Renata.

Na ponta dos pés
Não só sobre rodas dançam as bailarinas com deficiência. Na ponta dos pés, Aline Fávaro Tomaz, que tem síndrome de Down, emociona todas as platéias que assistem suas apresentações solo. Na Kleine Szene Studio de Dança, em Santo André (SP), onde faz balé, Aline tem mais duas colegas bailarinas com Down, mas é a única com a síndrome a dançar com sapatilhas de ponta – tanto na escola, como no País. Aos 8 anos, ela descobriu o balé clássico e nunca mais parou de dançar.
"O desempenho de Aline na dança me surpreendeu. Não imaginava que ela pudesse ir tão longe", orgulha-se a mãe, Eleide Fávaro. Sua intenção, ao proporcionar aulas de balé para a filha, era que ela fizesse exercícios para fortalecer a musculatura flácida, uma característica da síndrome de Down.
Para Aline, a sapatilha de ponta não é o limite. Agora ela está aprendendo a dançar o pas de deux, coreografia do balé clássico feita em dupla, na qual cada dançarino precisa estar em sincronia com os movimentos do parceiro. "Ao dançar, sinto muita paz e emoção", descreve a bailarina, que nunca recebeu tratamento diferente nas aulas de balé. "Sempre lhe cobraram muita disciplina, e nunca me opus, o que foi importante para o aprendizado dela", afirma a mãe.

Toque e imitação
A bailarina Aline Fávaro Tomaz, que tem síndrome de Down, não só emociona a platéia em suas apresentações como também seu talento desperta a curiosidade de todos. Para compartilhar a experiência de Aline, principalmente com familiares de crianças especiais, seus pais escreveram o livro A eficiência na deficiência, um relato emocionado da trajetória e das conquistas da bailarina "Queremos mostrar que a criança especial pode ir além. Na deficiência é possível encontrar eficiência. Cabe aos pais acreditar e incentivar o filho", diz João Tomaz da Silva, pai de Aline. Segundo ele, a história de sua filha tem saído das páginas do livro e entrado na vida de famílias de crianças com Down, incentivando-as a investir no potencial dos filhos. "As escolas de dança normal também se sentiram estimuladas a aceitar alunos especiais", acrescenta João. O livro pode ser adquirido pelo tel (11) 4178-7722.

Sem espelhos
Poder dançar em perfeita harmonia com as demais colegas em cena também é o desafio das meninas do Grupo de Dança do Instituto de Cegos Padre Chico, de São Paulo. O que parecia ser impossível tornou-se realidade com o esforço e a dedicação da bailarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini, que há sete anos trabalha como voluntária junto ao grupo. "No início, não foi nada fácil. Não havia livros que me ensinassem a desenvolver esse trabalho especial. As alunas foram me ajudando a criar um método", conta Fernanda. As aulas de balé são baseadas na estimulação de noções espaciais, expressão corporal e ritmo. O aprendizado dos passos é feito por meio do toque e da imitação. "As meninas tocam meu corpo para repetir os gestos e se orientam pelas marcações da música", esclarece Fernanda, professora de 33 crianças e adolescentes cegas que, só no ano passado, receberam 14 premiações em festivais de dança na categoria portadores de deficiência. "O balé é tudo para mim. Com ele corrigi minha postura e passei a me entrosar melhor com as pessoas", diz Camilla Satsuki Fukunaga, uma das bailarinas do grupo. Exemplos como os de Renata, Aline e Camilla mostram que sentir o próprio corpo e descobrir o que ele pode fazer significa trazer movimento também para a vida. Assim, aumentam a auto-estima e a certeza de que não há obstáculos quando se acredita num sonho.

Troca de experiências
Foi a bailarina e fisioterapeuta Rosangela Bernabé que aceitou o desafio de ensinar Renata a dançar, quando ela tinha 6 anos. "Renata já nasceu dançando. Tive de aprender com ela", diz a professora. A partir dessa experiência, ela criou o Grupo Giro, que se apresenta em todo o País e no exterior e, atualmente, é composto de seis bailarinas – quatro delas em cadeira de rodas. "Nas aulas", conta Rosangela, "ninguém copia ninguém. Não há espelhos. Não seguimos modelos. O movimento é o resultado de como cada um consegue fazer. Ninguém tem o mesmo gesto, mas o tempo de cada movimento é igual para todos." A iniciativa da fisioterapeuta reproduziu-se em mais de 40 grupos de dança que aceitam portadores de deficiência. Rosangela também montou a Oficina do Gesto, também em Niterói, onde a criança é assistida por fisioterapeutas, psicólogos e psicomotricistas. "Com brincadeiras, música e dramatizações, o aluno desenvolve sua expressão corporal e coloca para fora suas idéias, sonhos e preconceitos. A gente só facilita essa dança, despertando a memória corporal da criança", explica Rosangela.

Para saber mais: Oficina do Gesto
(21) 2611-5223
ggiro@uninet.com.br

Instituto de Cegos Padre Chico
(11) 2274-4611
http://www.padrechico.org.br/

Kleine Szene Studio de Dança
(11) 4438-2407


Fonte Revista Crescer

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